domingo, 15 de maio de 2011

MAX WEBER


Max Weber nasceu e teve sua formação intelectual no período em que as primeiras disputas sobre a metodologia das ciências sociais começavam a surgir na Europa, sobretudo em seu país, a Alemanha. Filho de uma família da alta classe média, Weber encontrou em sua casa uma atmosfera intelectualmente estimulante. Seu pai era um conhecido advogado e desde cedo orientou-o no sentido das humanidades. Weber recebeu excelente educação secundária em línguas, história e literatura clássica. Em 1882, começou os estudos superiores em Heidelberg; continuando-os em Göttingen e Berlim, em cujas universidades dedicou-se simultaneamente à economia, à história, à filosofia e ao direito.

Concluído o curso, trabalhou na Universidade de Berlim, na qual idade de livre-docente, ao mesmo tempo em que servia como assessor do governo. Em 1893, casou-se e; no ano seguinte, tornou-se professor de economia na Universidade de Freiburg, da qual se transferiu para a de Heidelberg, em 1896. Dois anos depois, sofreu sérias perturbações nervosas que o levaram a deixar os trabalhos docentes, só voltando à atividade em 1903, na qualidade de co-editor do Arquivo de Ciências Sociais (Archiv tür Sozialwissenschatt), publicação extremamente importante no desenvolvimento dos estudos sociológicas na Alemanha. A partir dessa época, Weber somente deu aulas particulares, salvo em algumas ocasiões, em que proferiu conferências nas universidades de Viena e Munique, nos anos que precederam sua morte, em 1920.

A Sociologia weberiana caracteriza-se por um dualismo racionalismo – irracionalismo:

- Racionalismo: rotina social; estabilidade; tradição; legalidade; continuidade; espírito científico e pragmático do ocidente, sacrificando a espontaneidade da vida aos cálculos e à seleção dos meios, para serem atingidos fins previamente escolhidos.

- Irracionalismo: crenças; mitos; sentimentos; ação carismática.

AÇÃO

Para Weber a sociedade não seria algo exterior e superior aos indivíduos, como em Durkheim. Para ele, a sociedade pode ser compreendida a partir do conjunto das ações individuais reciprocamente referidas. Por isso, Weber define como objeto da sociologia a ação social.

O que é ação social?

Para Weber ação social é qualquer ação que o indivíduo faz orientando-se pela ação de outros. Por exemplo um eleitor. Ele define seu voto orientando-se pela ação dos demais eleitores. Ou seja, temos a ação de um indivíduo, mas essa ação só é compreensível se percebemos que a escolha feita por ele tem como referência o conjunto dos demais eleitores.

Assim, Weber dirá que toda vez que se estabelecer uma relação significativa, isto é, algum tipo de sentido entre várias ações sociais, teremos então relações sociais.

A ação social, é a conduta humana dotada de sentido. O sentido motiva a ação individual.

Para Weber, cada sujeito age levado por um motivo que se orienta pela tradição, por interesses racionais ou pela emotividade.

O objetivo que transparece na ação social permite desvendar o seu sentido, que é social na medida em que cada indivíduo age levando em conta a resposta ou reação de outros indivíduos.

A ação social gera efeitos sobre a realidade em que ocorre.

É o indivíduo que através dos valores sociais[1] e de sua motivação, produz o sentido da ação social.

A transmissão destes valores comuns de uma geração para outra é chamada socialização, que é uma forma inconsciente de coerção social. Ex. de valores sociais: respeito, virgindade, honestidade, solidariedade, etc

Só existe ação social quando o indivíduo tenta estabelecer algum tipo de comunicação, a partir de suas ações, com os demais.

A partir dessa definição, Weber afirmará que podemos pensar em diferentes tipos de ação social, agrupando-as de acordo com o modo pelo qual os indivíduos orientam suas ações. Assim, ele estabelece tipos de ação social:

1. Ação tradicional: aquela determinada por um costume ou um hábito arraigado.

2. Ação carismática: inova e inobserva tradições. Funda-se na crença de ser seu autor dotado de poderes sobre-humanos e sobrenaturais que agem, livremente, sem fazer caso de normas estabelecidas ou de tradições, estabelecendo novas normas e criando tradições.

3. Ação afetiva: orientada pelas emoções e sentimentos.

4. Ação social racional: determinada pelo cálculo racional que coloca fins e organiza os meios necessários.

5. Ação política: a finalidade ideal da ação política é a instituição e a perpetuação do poder. Para a instituição e a perpetuação do poder a ação política exerce três tipos de dominação que precisam ser legitimados: carismática, tradicional e legal.

Weber afirma que a Ciência Social que ele pretende exercitar é uma “Ciência da Realidade”, voltada para a compreensão da significação cultural atual dos fenômenos e para o entendimento de sua origem histórica.

O método compreensivo, defendido por Weber, consiste em entender o sentido que as ações de um indivíduo contêm e não apenas o aspecto exterior dessas mesmas ações.

Se, por exemplo, uma pessoa dá a outra um pedaço de papel, esse fato, em si mesmo, é irrelevante para o cientista social. Somente quando se sabe que a primeira pessoa deu o papel para a outra como forma de saldar uma dívida (o pedaço de papel é um cheque) é que se está diante de um fato propriamente humano, ou seja, de uma ação carregada de sentido. O fato em questão não se esgota em si mesmo e aponta para todo um complexo de significações sociais, na medida em que as duas pessoas envolvidas atribuem ao pedaço de papel a função do servir como meio de troca ou pagamento; além disso, essa função é reconhecida por uma comunidade maior de pessoas.

Conhecimento

‘o conhecimento são os acontecimentos pensados, racionalizados, não apenas vividos’.

O que é conhecimento?

· O conhecimento é a relação entre uma consciência e um objeto que se quer conhecer.

· O conhecimento é o saber acumulado pelo homem através das gerações.

· O conhecimento é produto da ação e do pensamento ( que gerou a ação ).

Ex: Tive a idéia de fazer um bolo. Não qualquer bolo. Escolhi fazer um bolo de chocolate. A massa que saiu do forno é o produto da idéia que tive. Meus colegas Clóvis e Andréia, que comeram o bolo, não pensaram, não tiveram a idéia, não racionalizaram criando a receita.

· O conhecimento pode ser:

concreto: sujeito estabelece relação com objeto individual. Ex: conhecimento que temos de alguém em particular.

abstrato: relação estabelecida com um objeto geral, universal. Ex: conhecimento que temos do ser humano, como gênero.

Acontecimentos Pensados: são as idéias que temos das coisas: o pensamento

· Antes da ação existe a idéia, o pensamento do que se quer fazer.

· O pensamento é organizado com o vocabulário aprendido assim como os conceitos e definições.

· As ações exemplificam este conteúdo aprendido racionalmente através da língua ( portuguesa ).

· As idéias são os pensamentos organizados.

Definição de idéia: representação abstrata de um ser, de um objeto, elaborada pelo pensamento.

Ex: idéia do que seja belo ( ideal de beleza ).

Tipo Ideal

O tipo ideal é uma construção do pensamento e sua característica principal é não existir na realidade, mas servir de modelo para a análise de casos concretos, realmente existentes.

As construções de tipo ideal fazem parte do método tipológico criado por Max Weber. Ao comparar fenómenos sociais complexos o pesquisador cria tipos ou modelos ideais, construídos a partir de aspectos essenciais dos fenómenos.

Tipos ideais de dominação:

- Dominação carismática: legitimada pela fé e pelas qualidades sobrenaturais do chefe

- Dominação tradicional: legitimada pela crença sacrossanta na tradição

- Dominação legal: legitimada pelas leis a partir dos costumes e tornado possível pela burocracia, trazendo a especialização e a organização racional e legal das funções.

Burocracia

O estado moderno, com suas inúmeras atribuições, reclama a existência de uma ampla estrutura organizacional, constituída por funcionários sujeitos à hierarquia e a regulamentos.

Popularmente, o termo burocracia apresenta em geral uma conotação pejorativa, associada à lentidão com que se cumprem os trâmites administrativos e à existência de estruturas, um tanto abstratas, que regem as atividades humanas sem levar em conta as circunstâncias concretas e as necessidades individuais.

Nas ciências sociais, entretanto, a noção de burocracia define, por um lado, a estrutura organizativa e administrativa das atividades coletivas, no campo público e privado, e, por outro, o grupo social constituído pelos indivíduos dedicados ao trabalho administrativo, organizado hierarquicamente, de forma que seu funcionamento seja estritamente regido por rigorosas regras de caráter interno, emanadas da legislação administrativa geral.

Foi no século XVIII, com a crescente importância assumida pelos organismos administrativos, que Jean-Claude Marie Vincent, senhor de Gournay, criou a palavra burocracia, a partir do francês bureau, "escritório", e do grego kratia, "poder". Somente em fins do século XIX, o tema passou a ser estudado dentro de uma perspectiva geral.

“O domínio legal é caracterizado, do ponto de vista da legitimidade, pela existência de normas formais. Do ponto de vista do aparelho, pela existência de um staff administrativo burocrático (grupo qualificado de funcionários pela aptidão e competência, que assiste a um dirigente em entidades públicas e privadas)”. Weber, portanto, define a burocracia como a estrutura administrativa, de que se serve o tipo mais puro do domínio legal.

Segundo Weber, são três as características da burocracia:

§ A estruturação hierárquica;

§ O papel desempenhado por cada indivíduo dentro da estrutura; e

§ A existência de normas reguladoras das relações entre as unidades dessa estrutura.

A divisão do trabalho em áreas especializadas é obtida pela definição precisa dos deveres e responsabilidades de cada pessoa, considerada não individualmente, mas como um "cargo". Essa definição de cargo delimita determinadas áreas de competência, que não podem ser desrespeitadas em nenhuma hipótese, de acordo com os regulamentos pertinentes. Em situações extremas ou anômalas, recorre-se à consulta "por via hierárquica", ao órgão imediatamente superior.

Essa via, segundo Weber, resulta da absoluta compartimentação do trabalho e da estruturação hierárquica dos diferentes departamentos, de forma racional e impessoal. A legitimação da autoridade não é pessoal, nem se baseia no respeito primário à tradição, como nas relações tradicionais entre superiores e inferiores, mas resulta do reconhecimento da racionalidade e da excelência dos processos estabelecidos. O respeito e a obediência são devidos não à pessoa, nem sequer à instituição, mas sim ao ordenamento estabelecido.

Para Weber, a característica básica de todo o sistema burocrático é a existência de determinadas normas gerais e racionais de controle, que regulam o funcionamento do conjunto de acordo com técnicas determinadas de gestão, visando o maior rendimento possível.

Na realidade, como reconhece Weber, nem todas as organizações administrativas apresentam-se com todas essas características, presentes, no entanto, na grande maioria delas.


[1] Valores : níveis de preferência estabelecidos pelo ser humano para objetos, conhecimentos, comportamentos ou sentimentos, tenham eles origem individual ou coletiva. Mas todos eles geram algum tipo de conduta, isto é, servem de referência para a ação. É o valor moral, ético. Os valores sociais são aqueles gerados por um grupo e que contribuem para sua manutenção. Durkheim atribuiu aos valores a caracteristica de coerção social, ou seja, o poder de induzir pessoas a um determinado comportamento.

Um comentário:

Eli.M disse...

Excelente artigo!